quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Teorema e Teoremat

"Teoremat" é o título polaco do conto helderiano que, na tradução de Marta Machowska, foi publicado no nº 3-4/2010 da revista Literatura na Świecie.
Pego nesta tradução e comparo-a com o original. O meu objectivo não é criticar ou indicar erros, já que não sou uma tradutora nem tenho o conhecimento suficiente deste ofício. Intento apenas ver algumas das soluções pelas quais optou a tradutora e se o efeito final - Helder em polaco - faz uma impressão semelhante à do original.

Stanisław Barańczak, o poeta polaco e tradutor de Shakespeare, entre outros, afirma que a boa tradução deve, antes de tudo, funcionar bem na língua para a qual a obra se traduz, ou seja, deve parecer uma obra independente, escrita nesta língua, e não uma tradução. Mesmo que Barańczak, ao falar deste critério, refere-se a obras poéticas, julgo que se pode aplicá-lo também à prosa. E a tradução do "Teorema" cumpre esta condição. O "Teoremat" é tão cativante como o original.

Na minha opinião, a tradução é muito fiel ao original. A verdade é que o conto não tem umas metáforas complexas ou outros recursos estilísticos que seriam difíceis de traduzir. A linguagem utilizada por Helder no conto é antes muito directa. Há, porém, junções de palavras sinuosas ou frases construídas ou cortadas de maneira que não funcionaria bem em polaco. É interessante ver como a tradutora tinha às vezes de "safar-se" mudando ligeiramente a construção duma frase ou a sua parte, sem mudar, obviamente, o sentido:

«Por baixo da janela aonde assomou há uma outra, em estilo manuelino, uma relíquia, delicada obra de   pedra que resiste ao tempo.» (Helder 1963: 117)            
«Poniżej okna, w którym stanął, widnieje drugie okno, relikwia stylu manuelińskiego, subtelne dzieło w kamieniu, odporne na działanie czasu.» (Helder 2010: 25)
«Fico em pé, defronte do edifício.» (1963: 118)             
«Podnoszę się. Teraz stoję na wprost budynku.» (2010: 26)

«Somos um povo bárbaro e puro, e é uma grande responsabilidade encontrar-se alguém à cabeça de um povo assim.» (1963: 119)                                     
«Jesteśmy narodem barbarzyńskim i czystym. To wielka odpowiedzialność, być przywódcą takiego wielka odpowiedzialność, być przywódcą takiego narodu.» (2010: 27)

«O rei estará insone nos seus aposentos, sabendo que amará para sempre a minha vítima.» (1963: 121)                                                                    
«Król pozostanie bezsenny w swoich komnatach; on wie, że zawsze będzie kochał moją ofiarę.» (2010: 27)

Às vezes, era preciso usar mais adjectivos para conseguir exprimir duma forma mais fiel o sentido das palavras portuguesas:

«Foi um espectáculo sinistro e exaltante através de cidades, vilas e lugarejos.» (1963: 118)                       
«Ponury, podniosły i poruszający spektakl, ciągnący się przez miasta, miasteczka i wioski.» (2010: 26)

No entanto, a parte mais bem-sucedida é a parte final. Não vou citá-la. A quem seja interessado, recomendo a leitura da tradução inteira do conto.

HELDER, Herberto (1963) "Teorema". Em: Passos em Volta. Lisboa, Assírio & Alvim, pp. 117-121.

HELDER, Herberto (2010) "Teoremat". Em. Literatura na Świecie, nº 3-4/2010, Warszawa, pp. 25-28.


BARAŃCZAK, Stanisław (2004) Ocalone w tłumaczeniu. Kraków, Wyd. a5.

1 comentário:

  1. Eu li esta tradução e parece-me que o objectivo de que falou Baranczak foi cumprido. Parece-me que é até mais difícil traduzir prosa que tem características poéticas mas que é muito condensada enquanto os recursos estilísticos. H.H é económico enquanto as palavras ele opta e escolha estas que tem uma carga imagética, ou seja palavras que não precisam de serem acompanhadas por muitos adjectivos ou advérbios.

    ResponderEliminar